Referências X convicções
O ser humano é um animal que se relaciona com os demais, podemos dizer que são essas interações com o outro que ajudam a moldar nossa personalidade. Tanto relações com animais quanto com outros seres humanos podem modelar nossos sentimentos, valores, moral e consequentemente nossos comportamentos.
Nosso objetivo aqui não é discorrer e divagar sobre relacionamentos, mas a partir desse fato iniciar uma divagação: esses relacionamentos criam experiencias que irão moldar nossas referências sobre cada situação, e serão exatamente essas referências criadas a partir dos relacionamentos que moldarão nossas convicções.
Nós iremos começar fazendo uma analogia para facilitar o entendimento sobre esse conceito, vamos imaginar que cada referência criada a partir de uma experiencia, serão tijolos que compões a estrutura da nossa visão de mundo, funcionando como fundação de nossa mentalidade e perspectiva.
Quando nos deparamos com as diferentes experiências, interações e conhecimentos, estamos de forma constante, adicionando novos tijolos à nossa “fundação” mental. Esses tijolos, ou referências, podem vir de sucessos pessoais, fracassos, influências externas, educação e até mesmo do ambiente que vivemos. Imperativo para todos nós é compreender e conscientemente moldar essas referências, para influenciar diretamente nossas convicções.
Assim como numa casa, a avaliação da estrutura influencia na qualidade da habitação, a análise de nossas convicções, é a análise da estrutura mental. Algumas dessas convicções podem ser fortalecedoras, sustentando nossos momentos desafiadores. Outras podem ser limitadoras, criando barreiras que impedem o progresso. Identificar e entender essas referências é o primeiro passo para reforçar a estrutura mental de maneira positiva.
Como já vimos, nossas referências formam nossas convicções, até a manhã de 6 de maio de 1954, a convicção geral era que correr 1 milha em menos de 4 minutos era algo impossível. O Daily Telegraph, na época, descrevera a milha em menos de 4 minutos como “o maior objetivo do esporte” algo indescritível e aparentemente inatingível”. De fato, os fisiologistas da época afirmavam não só ser impossível, como tentar fazê-lo era perigoso para a saúde. Mas na manhã de 6 de maio Roger Bannister fez história. Bannister era estudante de medicina de Oxford e chegou a ser considerado o melhor corredor de meia distância da Grã-Bretanha. Acontece que em 1952 criou-se uma expectativa muito grande que nas olímpiadas de Helsinque que ele sairia campeão, mas terminou apenas em quarto lugar. Nos meses seguintes chegou a pensar em desistir, essa experiência gerou dúvidas em sua capacidade, no entanto se inspirou em seu herói de corrida, Sidney Wooderson, que tinha feito um retorno notável na mesma prova estabelecendo um novo recorde britânico.
Ele usou sua experiência, modulou a partir da referência de seu herói e estabeleceu uma meta de ser o primeiro homem a correr uma milha em menos de 4 minutos.
Nas suas palavras após alcançar o feito, ele disse: “A terra parecia se mover comigo. Eu encontrei uma nova fonte de poder e beleza, uma fonte que eu nunca soube que existia”, “médicos e cientistas disseram que era impossível quebrar a milha de 4 minutos, que alguém morreria na tentativa. Assim, quando me levantei da pista depois de desabar na linha de chegada, percebi que estava morto”.
O fato de quebrar o recorde mundial, provando que o ser humano poderia, de fato, correr a milha em menos de 4 minutos, deixou o mundo atordoado e ajudou a quebrar uma barreira mental coletiva.
No mês seguinte, um outro corredor baixou o tempo de Bannister em 2 segundos, enquanto nos 3 anos seguintes, outros 15 corredores realizaram o mesmo feito.
Em 1954 uma nova expectativa fora criada, uma nova referência mudou todo o paradigma através do qual outros corredores viam o mundo e, por sua vez, ajudou a redefinir o que o corpo humano poderia suportar e o que os atletas poderiam alcançar.